LIÇÃO DO DIA

A VIDA CARECE DE ALTERNÂNCIA

Morro de medo de viver uma vida “enlatada”, daquelas que já vem com guia, tutorial, um curso a distância e opção para baixar um e-book sobre “Como ter uma vida interessante”.

Morro de preguiça de quem receita essa bula, uma lista sem fim de clichês: pular de paraquedas, encarar a maior montanha russa do mundo, aprender com as lições do Vale do Silício, ir à Disney, conhecer a Europa, abrir uma startup, plantar uma árvore, ter um cachorro, escrever um livro, usar a marca tal, malhar, fazer yoga, não comer gordura, emagrecer, reduzir a circunferência abdominal, usar colete e cinta para alcançar as curvas desejadas, exterminar o açúcar e a farinha branca, manter pilhas de ovos no armário, tomar uma taça de vinho a noite, jamais dar um gole num refrigerante, encher a cara de linhaça, granola e chia pro intestino funcionar etc etc etc

Repeti etc três vezes porque os ingredientes para uma vida interessante, via de regra, são intermináveis. Não há carrinho de supermercado que caiba todos eles. E, por falar nisso, a vida precisa ser interessante pra quem? Pergunta retórica, resposta óbvia.

Parafraseando o Pondé quando ele discorda de algo: “acho tudo isso muito brega”. Só de seguir essa lista, a vida fica desinteressante demais pra mim. Para outras pessoas, é outra história. Afinal, cada um é único e prepara a vida do jeito que quiser. Cada um sabe o que é interessante ou não. Cada um sabe o que colocar no carrinho ou deixar fora dele. E ponto.

Para mim, vida interessante é aquela em que podemos mudar a rota, depois do trajeto traçado – não seguindo à risca a “modinha”, os cardápios prontos.

Um pouco de mudança, porque mudar demais também é outro chichê – especialmente neste mundo onde as palavras de ordem são disrupção e agilidade. Minha mãe já dizia: “pedra que muito rola, não cria lodo”.

Ontem mesmo vivi isso. O caminho estava pronto: da cidade da minha sogra e sogro para Uberlândia. Durante a viagem, mudamos de planos e passamos em Romaria para visitar nossa tia e primos. Nem usamos o Maps, GPS ou Waze. O melhor aplicativo pra ver quem a gente gosta, é o coração. E como foi bom! Saboreamos uma “carninha” assada das boas enquanto conversámos e colocávamos as notícias em dia.

A vida interessante – enlatada – eu tenho deixado na prateleira do supermercado. Viver pede esse improviso, essa alternância. Nosso dia a dia carece de uma quebra no mapa desenhado, no planejamento elaborado, nos objetivos definidos. A vida pede esse acrescentar de ingredientes a nosso gosto, de poder mudar, quebrar as regras e fazer um “mexidão” que faz feliz nosso paladar!

CRÉDITO DA IMAGEM

Imagem de ANISUR RAHMAN EM UNSPLASH POR PIXRL, URL:
https://unsplash.com/@arjabedbd



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